3/10/2011

Se não é um filme de cowboys, é um filme de amor

Lá longe em Damasco, o galã vilão vestido de negro bebe chá e explica às suas amigas que há um filme que vai estrear na Cinemateca.

É Lost West, o primeiro e provavelmente o último western português.
E fuma com um travo amargo de saudade. Carlito Quijote, o pistoleiro frio e implacável do Bando de Beralt é aliás Carlos, que deixou o seu cão Átila em Portugal aos cuidados do Pai Fernandes e emigrou com a mulher para a longínqua Síria.
Um artista, completo, íntegro, inquieto, corajoso, experimentador, solitário, que teve de emigrar para um país onde os cavalos o mordem, que por cá há mordidelas piores e para a sua arte e para o seu talento apenas havia corpos nodosos de celulite e banhas para massajar a preço de escravo num qualquer spa de novo riquismo xunga.

Havia o trabalho como animador do Lar de Idosos de Belmonte, onde devolvia sorriso aos olhos dos nossos velhos, mas onde não havia lugar para o seu humanismo e para o seu atrevimento. Ali, só campeia o funcionalismo da mudança das fraldas e da frieza de enfermagem. Num lar de velhos não há lugar para o talento dos corações bondosos. Só há merda, abandono e morte.
Mas nos copos embutidos no saloon El Passadiço ou nos duelos fraticidas com Kit Carson no caudaloso Zêzere, Carlos não é um escorraçado, ele é um príncipe. Um príncipe de cabedal preto, lunático e lúcido, altivo e cruel. Um príncipe que morre a morte perfeita, aquela que nos imortaliza. A morte no cinema.

Miguel pede para sair mais cedo do trabalho, logo há noite estreia do Lost West na Cinemateca. É um momento importante para ele, é a sua outra vida. A dele, a nossa, a secreta, a real. Miguel foi corajoso agricultor. Quis criar ovelhas e apanhar azeitonas e viver do que a terra dá, e ficar na terra que é sua.
Mas a terra é puta e os homens são cabrões, e para ganhar a vida Miguel teve de abandonar a sua terra e deixar as suas ovelhas. Mas Miguel é mais do que o engenheiro aplicado, ele é Angel, pistoleiro, aventureiro, artista de cinema. O punhal cravado e perdido de Kit Carson é o punhal da sua libertação.

Angel é inseparável companheiro de Adriano, menino-homem que vive em auto reclusão. Um dia apanhou um avião para Tóquio porque se apaixonou por uma japonesa. Foi sem dinheiro, voltou com mais um bocado de mundo, ainda assim infinitamente mais pequenino que o seu mundo – o dos sonhos.
Ele é Black Jack, um dos arcanjos do mal de Lost West, sempre com a coronha da winchester pronta para abrir a cabeça a um barman ou a um juiz.

Leninha olha para o relógio, para a hora de saída no seu emprego numa respeitável instituição desse Estado sem roque que é o nosso. Jurista aplicada, competente. Uma mulher-menina a quem a lucidez e pragmatismo não asfixiou o coração - generoso, cuidadoso e atento. Hoje tem pressa de arrumar os processos cedo porque logo estreia o Lost West e ela canta. Ela devia cantar sempre. Ela é Maria, a “sweet” Maria, a menina esperança, a luz ambígua nas trevas de Lost West. Ela é nossa voz, a voz que nos embala no dueto com Jerónimo.

Leninha telefona ao Xico, colega de faculdade de Direito e o juiz Holmes do filme.
- Ó Xico despacha-te que há garrafões de tinto do Fundão às oito no terraço da Cinemateca!
- Já vou a caminho, já vou a caminho.

Jerónimo e Zé Emílio discutem à porta do Núcleo Sportinguista do Fundão. Já estão atrasados por causa das minis do Zé Emílio (ou serão do Jerónimo?) e o Renault a cair de podre do Jerónimo não dá para andar nas horas do caralho na “auto route”.
– Ó Zé despacha-te caralho pá que a estreia é às 9 e meia! Diz o Jerónimo já a fumegar.

Jerónimo e Zé Emílio são membros da banda “Jerónimo e Cro Magnon” do Fundão. Boa música, bons copos, boas aventuras, bons cowboys, que cavalgaram horas a fio, minis a fio, na banda sonora do Lost West. Vão chegar tarde, mas vão chegar, com as guitarras.

Bruno também vem. Este foi ao contrário, foi de cá para lá. Da margem sul para as entranhas de Portugal a ajudar a salvar o interior. Um romântico tem de ser um barman num filme, e mesmo que o interior não se salve ele lutou. Agora é o barman Sam. Avia copos, limpa o balcão, filosofa e leva coronhadas como compete ao bom filósofo e ao melhor romântico.

Quem ficou lá foi Beralt. O vião, o espírito do mal, o príncipe Satã da terra que engole os homens. O devorador de recursos, o profeta do apocalipse. Por lá onde ficou, na vida real, a tal que também é uma ficção onde todos somos actores, por lá ficou a planear como salvar a sua terra da desertificação, do abandono, do esquecimento.
Por lá percebeu que se arranja mais inimigos a tentar fazer o bem do que a praticar o mal. Paulo, o meu amigo, companheiro de cavalgada de longa poeira de Canyon, como dois velhos cowboys irascíveis e amargos com a vida, mas capazes do humor, essa coisa que une os homens, como nenhuma mulher será capaz de se lhes unir.
Hoje vem, e vamo-nos rir os dois, como sempre, para sempre.

Ele e eu, Kit Carson, ou pior, Rui Pelejão, que renasci para ser cowboy para sempre Trata-se de uma arma poderosa para levar pela vida.
Saber que debaixo do fatinho de jornalista de carros que escreve umas artigalhadas na internet, saber que por baixo desse fatinho amestrado há o colt 45 de Kit Carson. Saber que todos podemos ser um pistoleiro falhado e abater vilões como se abatem copos de whisky, no cinema e na vida real, ou exactamente ao contrário.

E essa arma que uso a tiracolo foi-me dada por Tiga. O autor de Lost West, com toda a solitária dignidade que a palavra autor carrega. Um autor que sobe ao telhado da cidade para declarar o seu amor ao cinema, o seu desprezo pelos vendilhões e o faz com a voz da coragem que é subversiva, porque não há nada mais subversivo do que a verdade.
E Tiga? E Hugo? Onde estão eles? Tiga diz que só consegue cagar em casa e na cinemateca. Nunca ouvi tamanha declaração de amor a uma casa de cultura. Sim a cinemateca é a outra casa dele, a verdadeira.

A dele e a do Hugo. Estão a beber alarvemente vinho do Fundão na esplanada da cinemateca, vinho que o Pai Fernandes trouxe. Porque se cozinhar é amor, beber em camaradagem é sexo e do bom.

Tiga está nervoso, mesmo que disfarce com indiferença e tinto. Vai mostrar (que é diferente de exibir) a sua primeira longa-metragem na Cinemateca. Hugo que partilhou a montada das curtas-metragens da adolescência, a montagem de Lost West e deu a voz cavernosa e sardónica e Beralt, Hugo inspira confiança serena a Tiga.

São dois terroristas de génio. Dois dinamitadores com fígado de Peckinpah, com o coração dos filmes de Ford. A Cinemateca abriu-lhes as portas, espero que tenham seguro contra anarquistas e incendiários. Espero que tratem o génio novo como todo o génio novo deve ser tratado – mal e à paulada.
A porrada enrobustece o génio.

Lost West é o filme de Tiga, ou aliás do jovem e brilhante jurista não empregado (e ainda bem), que podia ser um ícone de uma geração alegadamente perdida, mas que é um iconoclasta que ama o cinema e apenas quer fazer os seus filmes sem que ninguém lhe foda a cabeça (a não ser o seu pai, que esse tem direito a isso).
Com o seu cinema de orçamento nenhum e a sua escrita pura e brutal conseguiu libertar-nos a todos, gloriosa tribo de falhados, instalados, alienados; indomável quadrilha selvagem. Liberto-nos pelo cinema, para o cinema.

E ali, mais logo, na casa do cinema, será muito mais que um western, será um filme de amor.
E ali estaremos todos, o Diamantino e as suas nuvens e trilhos napoleónico, Bruno a sua câmara, o seu poker, os seus disco de Billie Holiday, a sua mulher, Marta, e o filho Ricardo, o bebé nascido no amor do Lost West. E ali estará o Pai Fernandes a ressonar de orgulho na quarta fila, e o Souto e as suas esquisitices técnicas, e o Zina e o Leonel e o Vitor, e até o cavalo Eleven e o cão do Leonel, e todos os que participaram nessa grande e inesquecível aventura que foi fazer o Lost West.

Como se pode escrever sobre o amor? Como se pode escrever sobre algo que se ama tanto? Como posso escrever sobre a minha avó Piedade e todas as mulheres que amo? Como posso escrever sobre os meus amigos como se fosse um longo abraço fraterno? Como posso escrever sobre o filme da minha vida?

Como posso escrever sobre Lost West?
Não posso.
Por isso calo-me, porque o silêncio de uns olhos húmidos de felicidade é a melhor forma de escrever. Sem palavras.

Hoje estaremos tão juntos como sempre, para sempre.
É apenas mais um dia de amor. Porque o cinema é amor.

Para ti Tigana, Leninha, Bigi, Carlito, Pai Fernandes, Carneiro, Adriano, Bruno, Bruninho, Leonel, Marta, Hugo, Xico, Diamantino, Jerónimo, Zé Emílio, Souto, Zina, Vitor. Para todos os amigos da quadrilha selvagem, bem hajam pela cavalgada pelo Oeste perdido.

9/02/2010

Uma garrafa e um tractor


Se tudo o resto falhar, há sempre uma garrafa e um tractor.

1/29/2010

Condolências de balcão

Absinto muito

1/28/2010

Pontuação sentimental

Há quem não goste de reticências. Mas não percebem que as reticências são apenas um misterioso ménage a trois de pontos finais. Por isso gosto de reticências

10/30/2009

Elvis Presley - Love Me - Comeback Special 1968

Eu tenho a certeze que Ele está vivo

10/29/2009

Eartha Kitt "Champagne Taste" in Australia

Obrigatório no reportório de uma drag queen que se preze

Django Reinhardt - J'attendrai Swing 1939

Olha que dois

10/26/2009

AGUSTÍN LARA - María Bonita

Agustin Lara, uma descoberta. Uma pepita nesse grande rio You Tube. O rei dos boleros

9/22/2009

Agendas ocultas

Editorial de José Manuel Fernandes a propósito da demissão de Fernando Lima da assessoria de imprensa da Presidência da República

http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1401711


O ódio retira faculdades de julgamento e o editorial do "Público" mostra que o seu director está a perder definitivamente o juízo, sustentando em pseudo-factos, aquilo que não passa da sua visão maniqueista e conspirativa deste infeliz caso.
Há muito tempo que JMF tem de facto uma agenda oculta, e este caso teve pelo menos a vantagem de o expor. A agenda oculta de JMF é simples - destruir Sócrates e tudo o que o PS enquanto Governo faz ou deixa de fazer - é tão simples quanto isto. Basta fazer um resumo das desonestidades intelectuais que produziu em temas como o aeroporto (sendo ariete de um grupo de pressão e de engenheiros a soldo), a inqualificável forma como ataca o TGV, sempre como câmara de repercurssão dos mesmos engenheiros, bastava isso para perceber que JMF tem de facto uma agenda própria, e que com ela arrastou o Público para uma contaminação que lhe será fatal.
O Publico deixou de ser um jornal de liberdade e de formação cívica dos seus leitores, para passar a ser uma espécie de blogue do seu director. Há no entanto esperança para JMF, é que vai vagar um lugar na assessoria de imprensa da presidência da república, e ele reune as qualificações para aquele trabalho.

Wim Mertens We are the thieves

Nós somos os ladrões de estrada, os marinheiros perdidos no mar, os que não ficam, os que partem...

9/03/2009

Pela trela do cão do O`Neill


Cão, cão, anda-cá-cão.
bosche, boshe, cão.
anda-cá-cão.
pirata, corsário,
pantufas, galochas,
pintas, bolinhas,
tareco, fiel

janota, banzé
dali, sebastião
anda-cá-cão,
rais ta partam
cão-que-não-vens.

cão-a-trote,
cão-mascote
cão-farsola
cão-mariola
cão-funcionário
cão-maluco
cão-esquálido
cão-balofo
cão-lingrinhas
cão-zarrão
cão-tagarela
cão-que mordes-pela-calada
cão-invejoso
cão-de meia-tigela


lá vais tu de cauda curta,
e língua à banda
cão-estúpido,
cão-cabrão
vem ao dono-cão,
olhó osso-cão

finge morto
rebola
salta
lambe-me a mão,
cão

cãozinho da boca grande
toma o osso-cão!
apanha, corre-cão
corre, corre que te fazem barão
cão-que-rosna
cão-que-morde
cão-que-corre
cão-que dorme, (…) espojado no chão

foge, cão, foge
cão-diligente
cão-que-guardas-a-lua
cã-obediente,
lindo-cão
cão-que-finges
cão-que-te-coças(…)
das pulgas nas costas
cão que tiritas ao frio
cão-canícula
que dormes à sombra

cão raivoso
cão meloso
queres festas cão?
rebentas de fome,
como um cão desprezado?

queres ser livre cão?
queres ser livre?
então foge cão, foge cão
e leva-me contigo pela trela.
cão.
Ao meu amigo Rui Freire e à Maria José, pelo amor aos cães, um amor comovedoramente humano

Foto:"O Léo de Lagos" Margarida Dias

8/04/2009

Produções fictícias formam Governo


As Produções Fictícias também podiam fazer o programa de Governo do PS, ou o António Vitorino podia escrever gags para os Contemporâneos, que ia dar ao mesmo. Melhor mesmo só o nihilismo liberal do PSD. Para falar verdade, basta não dizer nada. Que grande farra esta!


“Funde uma sociedade de pessoas honestas, todos os ladrões estarão nela.”
Alain

Os programas de Governo dos partidos são como os livros do Saramago e do Lobo Antunes – ninguém os leu, mas toda a alminha tem uma opinião sobre eles.
Quando muito, um cidadão bloguista deita uma esguelha, um jornalista curioso dá uma à val d`oiseaux e os gabinetes de estudos dos partidos adversários sublinham com um marcador de feltro as partes para malhar.
Dos programas de Governo conhecemos apenas as versões “reader`s digest” que os jornais nos servem ao sabor das suas inclinações de momento – e neste momento é fácil de ver qual é a inclinação geral.
É pena, porque os programas de Governo são habitualmente dos poucos momentos em que os políticos revelam imaginação literária, propensão para a ficção social e um admirável lirismo de aldrabões. Todos sabemos que os programas de Governo não são para cumprir. Aliás, promessas para cumprir em Portugal só mesmo à Senhora de Fátima, e mesmo essas…
Mas é sempre estimulante imaginar as cabeças pensantes dos partidos a fazer umas noitadas a café expresso e mangas de camisa, esgalhando umas boas tiradas governativas, como gags para uma noitada de stand up comedy.
Um programa de Governo feito pelo PS ou pelas Produções Fictícias faz-se exactamente da mesma maneira e tem exactamente o mesmo valor e efeito – é de rebolar de riso.
Como bom português, li o programa de Governo do PS, e posso fazer-vos um resumo preguiçoso – basicamente, o senhor Vitorino dos pareceres milionários tratou de copiar muito bem copiadinhas as políticas estatistas e intervencionistas do Obama, só que sem o Obama e sem o pilim. Mais Estado e melhor Estado, e claro, apoios às PME`s para acelerar a competitividade da economia nacional e obrigar a senhora do PSD a agitar a permanente e a meter a viola no saco.
O programa de Governo do PS é uma espécie de novo contrato social à Rousseau, nós vamos para uma esplanada beber finos e comer caracóis e o Estado trata do resto. Porque assim que se injectarem mais uns milhões nas PME`s, se plantarem mais umas ventoinhas nas serras e se construir o TGV, estamos safos.
Acho muita piada a essa história das PME`s que recebem apoios para formação e modernização à quinhéculas, e continuam pequenas, médias, ou raquíticas.
O PS fez um programa de Governo de esquerda – prometendo apoios sociais até para andar de triciclo, só não explicou lá muito bem quem é que paga a conta. Festas assim também eu sei dar.
Mas o PS tem pelo menos o mérito de já ter um programa de Governo, enquanto os outros partidos ainda andam às turras para fazer as listinhas do casório com o poder.
O Bloco de Esquerda e o PC não precisam de anunciar as grandes linhas de orientação para o país, porque o seu programa é de anti-governo. Limitam-se a contestar o programa do PS, nas partes que leram; enquanto o PP não tem gente suficiente para alugar um T3 quanto mais para escrever um programa de Governo. Basta andar pelas feiras e mercados a dizer que é preciso mais polícia nas ruas e apoio para a velhice, e esperar que o PSD ganhe as eleições para ir fazer contratos de submarinos para o Governo.
Estes partidos não precisam de programa de Governo porque sabem que nunca serão Governo, e um programa de oposição é fácil de fazer – hay govierno, soy contra.
Já o PSD, partido com experiência da gamela, prepara-se para revolucionar a Ciência Política e obrigar João Carlos Espada a reescrever os seus manuais na católica.
Manuela Ferreira Leite, Pacheco Pereira e aquele senhor com ar de totó do Porto que anda sempre aos pulinhos atrás da senhora e é advogado; esta santíssima trindade prepara-se para instaurar em Portugal o primeiro regime Nihilista Liberal do mundo.
A fórmula é simples – não prometer nada que não se possa cumprir. Ora esta máxima deve obrigar a uma grande ginástica mental para produzir um programa de Governo.
Se encherem uma folha A4, já não é mau.
Mas como povo beckettiano que somos, lá iremos alegremente entregar a choça ao cavaco de saias, acreditando piamente na máxima “o nada é quase tudo”.
Nada fazer e deixar a mão invisível fazer o resto (além de apoiar as PME`s, claro está) é o programa de Governo do PSD, não abdicando de combater o défice com receitas extraordinárias (vendendo as pratas e as PT`S que restam), como a senhora sempre fez enquanto ministra das Finanças.
Temos pelo menos o consolo de ser senhora séria e falar verdade. Ora, não dizendo é muito mais fácil de não aldrabar. E assim pela caladinha, a honestíssima e venerável senhora lá vai cozinhando as listas de comensais ao banquete de poder que se avizinha, distribuindo as futuras tenças entre personalidades como António Preto ou Helena Lopes da Costa, arguidos em casos de abuso de poder e corrupção, que podem figurar nessas listas porque o PSD achou prudente não aprovar a lei que há dois anos está em banho-maria na comissão da especialidade. Uma lei que impede arguidos em processos criminais de se candidatarem a cargos públicos. Ah, que refrescante é esta lufada de seriedade e ética na sociedade portuguesa. O nihilismo liberal é o futuro, infelizmente o nosso.


“Em política, sucedemos a imbecis e somos substituídos por incapazes”
Georges Clémenceau

6/09/2009

The Cure - Acoustic - Love Cats + Close to me

Estamos velhos, mas pertinho uns dos outros somos tão novos como sempre.

5/08/2009

Powermad in "Wild At Heart"

O amor como deve ser, com porrada e uma balada do Elvis

1/04/2009

Dicionário dos dias imperfeitos


As quadras festivas que agora se esfumam como o borralho da lareira são para mim um período de intenso fragor etílico, entre tintos, vapores escoceses e murganheiras repimpantes, uma orgia insana de comes e bebes a testar os limites da resistência do fígado, devorado todos os dias como Prometeu acorrentado a uma garrafa de Bushmills.

A cabeça, órgão inútil neste tempo, a não ser para suportar os efeitos da ressaca, cede a batuta ao fígado. Agora, sob influência dos Gurosans retemperadores, devolvo lentamente ao cérebro o seu tímido ascendente e penso sobre o futuro, essa curiosidade angustiosa que se impõe sempre que um ano novo se instala no calendário.
Como sou incapaz de pensamento e projecção além do curto prazo consulto as profecias do sapateiro do Trancoso, o Bandarra, sobre o Quinto Império, o regresso de D. Sebastião e o destino de Portugal. Qualquer um dos temas é encantador e desafiante para o génio especulativo e charlatão do Professor Marcelo, mas não para mim que tento cultivar com ócio a profundidade do superficial.

Mas, confesso que futuramente gostaria de ser futurologista, DJ psicadélico e ter um bar de praia com tostas e bebidas exóticas. Ser futurologista é um dos empregos mais seguros do mundo a seguir a ex-ministro, segundo oficial no Ministério das Finanças, juiz desbraguilhador ou papa. Uma das coisas boas de ser futurologista é em si mesmo uma espécie de infalibilidade papal, pois não é um ofício passível de ser avaliado ou escrutinado, e nesse aspecto percebo o sentimento de injustiça e desigualdade que assola os professores, autênticos mártires do avaliacionismo.
Se eu disser que Marte vai ser a nova Las Vegas interplanetária em 2035, que os Delfins vão tocar em Wembley em 2018 ou que Gonçalo M Tavares vai ser prémio Nobel em 2045 ninguém me vai levar a mal, especialmente se os fundamentos causídicos de tal especulação forem sustentados em premissas alegadamente científicas.
Esse é o único problema do ofício de profeta, é o ter que criar uma teoria verosímil aos olhos dos homens de hoje. Basta consultar exercícios de futurologia dos finais do séx. XIX para perceber que apenas Verne e Da Vinci, em produção ficcionista pura, se aproximaram do futuro, tudo o resto são, hoje, patacoadas hilariantes.
Tão hilariantes como as comunicações ao país do nosso Presidente da República, criador de um novo género na escola profética - a futurologia retroactiva. Este ano lembrou-se de que o mundo rural está a morrer e que assim o interior ficará despovoado. Acontece que esta profecia é válida a partir da década de 80 do século passado, época em que a reverencial pitonisa da nação podia ter feito alguma coisa sobre o assunto e nada fez.
Acertar no totobola à quarta-feira também eu!
Mas, em Belém, temos obviamente o que merecemos, e não são os pastéis.
No género mais clássico e respeitável do adivinhanço, recordo um francês do final do séc XIX que previu que no futuro os passeios das cidades teriam de ter mais de um metro de altura porque com o previsível aumento do tráfego de carroças e coches, as estradas estariam pavimentadas com esterco de animais.
Acertou na componente merdosa da equação (hoje é poluição e cócó de cão) mas esqueceu-se de uma variável importante – a invenção do automóvel.
Como não estou particularmente interessado em futurologia escatológica e me sinto um porno-esteticista sem rumo, vou agora ver a “Guerra das Estrela”, o único futuro com que me importo, e deixo-vos com a única razão para ter interrompido o meu exílio etílico; ou seja este excerto do Dicionário Imperfeito de Agustina Bessa-Luís, ideal para estes dias imperfeitos e para a Babilónia de falsos profetas e ufanos idiotas que é a internet.
Um bom ano, para quem o merecer.

“Debaixo da bandeira da igualdade, todo o insensato e o pequeno porno-esteticista tem uma palavra a dizer. A sabedoria, fatalmente em conselho de raros, está reduzida a uma alínea gasta e intraduzível. A tela gigantesca dos nossos costumes admite tudo com essa leviandade triunfal a que se chama liberdade de expressão e coisas assim. Os profetas começam a mover-se. Descem dos morros, ligeiramente inseguros e, no entanto, contaminados duma certeza violenta: a de que a Babilónia principia a ceder, e o fragor da sua trepidação em busca de um novo centro de gravidade se ouve.”

1/02/2009

To do things 2009


Vodka7 deseja a todos os seus três associados, amigos, simpatizantes e boas pessoas em geral um bom ano novo. É só seguir a posologia indicada pelas MMP de Margarida Dias e V7.

12/04/2008

Ilusionismo artificial

@iluminação artificial

O Estado providencia

Os professores de Economia Política da Universidade Católica andam num lufa a ler as entrelinhas da "Economist", a refazer os seus manuais e a tirar o paletó do Keynes da naftalina. As tarefas do revisionismo histórico são mais pesadas do que a pura especulação teórica. Enfermeiras do capitalismo acamado, coitadas.

Por este andar, João Carlos Espada, o Popper português, está qualquer dia a dar de comer aos patos do lago do Campo Grande ou a reescrever a história económica da Albânia - o que seria mau para os albaneses, mas tranquilizador para a saúde digestiva dos patos.
A crise intestinal do capitalismo está a ser combatida com uns “clijsters” que não lembram nem ao Dr. House nem ao Enver Hoxha e que deveriam fazer qualquer liberal que se preze pegar em armas ou em estalinhos de Carnaval.
Uma coisa é certa, esta crise mostrou que a mão invisível não vai à manicure. Tem as unhas porcalhotas de tanto as meter no bolso dos outros.Ora, como eu sempre desconfiei, não há verdadeiros capitalistas ou liberais.

Os liberais encartados são de cátedra ou de oportunidade, e andam agora a assobiar para o ar, a fazerem-se de esquecidos. Uma arte nacional, o esquecimento premeditado.
Há apenas ricos e gananciosos a defenderem um modelo que permita multiplicar a sua riqueza sem grandes chatices, e os outros, que um dia gostariam de poder ser capitalistas e liberais, desde que não tivessem uma prestação da casa para pagar ou uma multa do IRS para saldar.
Como sabem que nunca chegarão a ricos, bebem martinis e maldizem o Governo e os ricos, e toca de emborcar mais uma que amanhã há avião para uma semanada de férias no Brasil, com pulseirinha de tudo incluído. Os ricos que paguem a crise.

Ainda não chegamos ao olho de furacão da crise, mas os sintomas de demência “ideológica” são evidentes. Os arautos do liberalismo económico parecem baratas tontas; basta ver a tese peregrina defendida pelo director do “Público”, de que esta crise financeira resulta do excesso de regulação do Estado decorrente do intervencionismo económico do Plano Marshall.
E já agora porque não discutir o dirigismo económico das tribos Neandardal ou o centralismo financeiro do Imperador Pepino, o grande?
Sabendo que a farmacologia para doenças mentais está tão avançada, não se entende porque é que o Estado não comparticipa fármacos para estes notórios casos patológicos que esperneiam nos jornais e nos blogues como maluquinhos num manicómio.
Por favor mediquem-nos ou então internem-nos. Podia até criar-se uma ala psiquiátrica para estes casos no Júlio de Matos, chamada, por exemplo – Ala Pacheco Pereira, ou o corredor da mão invisível.
Se acham que estou a exagerar, consultem o caderno de Economia do Expresso de há um mês atrás. Em plena “nacionalização” da banca americana, um professor assistente da Católica (de onde mais) defendia com denodo uma medida de “moralização” do Rendimento Mínimo Garantido, ou seja, que os beneficiários tivessem de fazer “prova” da sua pobreza.
A apostólica luminária não explicava lá muito bem como é que alguém faz prova da sua pobreza; talvez sinais de raquitismo, desnutrição, mordidelas de ratos ou a prova de que não têm nenhum leitor de DVD`s em casa. Felizmente esta tese digna de Prémio Nobel da Buraca caiu no esquecimento e ao contrário do que os liberais defenderam, o Estado Providência não está falido, e o Rendimento Mínimo Garantido não só abrange as necessidades básicas da simpática comunidade cigana mas passa também a cobrir fortunas de empresários capitalistas (e logo, liberais) que andavam ao-ti-ao-ti com o buraco financeiro do Banco Privado Português.

É bom saber que o Estado providencia e garante as casas na Quinta da Marinha, os iates e os Bentleys destes “pequenos” aforristas, que para terem uma continha na Dona Branca dos Ricos (o sr. Rendeiro) precisavam no mínimo de um depósito de 50 mil euros.
Percebe-se que para o Dr. José Miguel Júdice quem tenha 50 mil euros para pôr a render no banco seja um pequeno aforrista. É que o Dr. Júdice não é de cá, é de Coimbra.

Mas agora a sério, fico reconfortado em saber que as fortunas deste país estão a salvo do furacão, já que o Estado omnipotente e omnipresente nos protege.
Se os accionistas do Banco Privado Português e os administradores dos bancos portugueses têm o seu dinheirinho a salvo por causa dos riscos sistémicos de contágio do sistema financeiro, eu e os mineiros de Aljustrel também podemos dormir descansados.
Afinal se eu ficar teso os riscos sistémicos para meia dúzia de bares, restaurantes e FNAC`s são muito elevados, tal como para as tabernas e mercearias de Aljustel, caso os mineiros fossem lançados no desemprego.

Uma coisa boa do Estado Providência é que trata as pessoas todas bem: banqueiros, ciganos, bebedolas e mineiros, tudo por igual tem o seu rendimento mínimo garantido, caso contrário haveria grandes riscos sistémicos para a Central de Cervejas ou para o importador do Moet e Chandon.

10/28/2008

oceans twelve laser dance

Dancem lá esta. Os "cadáver esquisito" preparam a sua estreia

Big Bill Broonzy plays

Hey, hey

10/17/2008

O feitiço da lua na serra mágica

"O celeiro ardeu, agora posso ver a lua."
ditado Zen
!Aos meus amigos Ricardo e Margarida, companheiros de aventura na serra mágica da Gardunha

10/05/2008

Finesecuras


- Não há nada que se beba?


- As bebidas expostas são para consumo da casa.

Off with their heads

Eu que ando sempre musicalmente distraído a ouvir o mesmo CD em "repeat" por causa da preguiça, só às vezes acordado da "letargia FM" para grandes revelações da grande música que se faz hoje.
Nunca se fez tanta nem tão boa, independentemente do que os saudosistas como eu possam preconceituar. Querem uma prova?
Basta ligarem-se todas as noites na "Radar" e escutar o program desse grande divulgador e tutor que é o António Sérgio no "Viriato 25", ou então, fazerem uma visitinha ao omissão impossível do meu amigo Parrovski, companhia diária nas horas do patrão que assim passam mais depressa e melhor.
Foi lá que descobri que os Kaiser Chiefs têm um novo álbum ("Off with their heads") e que ou muito me engano é um dos grandes álbuns do ano. Especial atenção ao "Tomato in the rain", simplesmente fabulástico.
Sabe tão bem ser conduzido pelos novos profetas do "Som da Frente".

Cegueira induzida

Uma associação de invisuais americanos lançou uma anátema sobre o filme de Fernando Meirelles baseado no romance de José Saramago "Ensaio sobre a cegueira". De acordo com a visionária associação de invisuais o filme que esta semana estreou nos EUA podia favorecer a descriminação sobre pessoas invisuais.

Nunca o velho ditado de que "pior cego é aquele que não quer ver" ganhou tão apropriada expressão. Ainda assim assalta-me um dúvida, se os senhores da associação são invisuais, como é que sabem que o filme é descriminatório? Só se alguém com dois olhinhos, uma mente porca e uma boca se bufou. É o mais natural. Mais valia aos ceguetas da associação confiarem no seu pastor alemão, sempre é mais fiável.

10/01/2008

Tríptico - nariz, boca e olho


«O dia do baptizado com um toque inesperado de Houdini.
A magia de um outro olhar.»
Gracias Margarida

9/30/2008

Welcome To The Jungle

Em vez da campaínha do Cavaco, a abertura dos mercados financeiros devia ter uma nova banda sonora.
Eis a primeira sugestão: Guns n`roses

Monty Python's The life of Brian - I want to be a woman

Eis um bom sketch de abertura para o congresso dos homosexuais católicos, se estes não se levassem tão futilmente a sério, claro.
Monty Pythons antes da era do politicamente correcto:


- Mas qual é o interesse dele lutar pelo seu direito de ter bébés, quando ele não pode ter bébés?
- É simbólico! Simbólico da sua luta contra a opressão!
- É simbólico é da sua luta contra a realidade.

9/20/2008

Águas de Setembro


Caminhando sobre as águas de Setembro, o pequeno Narciso vê o Verão que passa reflectido na água. A espuma dos dias que nos leva de Verão em Verão até ao Outono das nossas vidas. O rio corre todo o ano pelos nossos pés calejados pelas caminhadas sem rumo.
Em Setembro o rio das nossas vidas desagua naquele momento fixo em que, como o pequeno Narciso, hesitamos no mergulho frio de um Verão que acaba.

foto: "O mergulho do pequeno Narciso", Janeiro de Cima, Zêzere, 2008

Aforismos por medida

Os aforismos são como os fatos, assentam bem quando são feitos à mão e o tecido é bom. Fernando Savater na sua última crónica no "El País" (o único jornal de referência de Portugal), escrevia sobre aforismos, um género tão mortífero como a bala de um sniper. O escritor espanhol sacou duas pepitas de breviário das suas cuidadas espeleologias:

"Tentei muitas vezes criar raízes, mas as asas sempre me impediram."
Ramón Eder

"Não confundir a moral com quem a defende."
Andrés Neuman

"A ninguém lhes parecem os seus defeitos demasiado graves, especialmente o defeito de não considerarem os seus defeitos demasiado graves."
Carlos Marzal

"O politicamente correcto consiste em estender o sensato até à estupidez."
José Mateos


Tanta sabedoria em tão poucas palavras

Alta cilindrada

Banqueiros e assaltantes têm várias coisas em comum. Uma delas é que todos fogem em carros de alta cilindrada, uns encapuzados, outros engravatados.

Capitalismo selvagem

Parece que a vaga de assaltos foi varrida dos noticiários. Os ladrões de bancos e de postos de gasolina, que apenas procuravam uma justa participação nos lucros, foram agora remetidos ao esquecimento mediático. Agora são os próprios bancos que se assaltam à mão armada e jogam à roleta russa em Wall Street. Crimes, castigos e capitalismo de pistola em punho.

9/13/2008

Para curar ressacas

Para curar ressacas de domingo de manhã, nada como a velha receita do Cash e uma cocacolazinha com muito gelo e uma meia lua de limão.

8/26/2008

Lost West

A brincar aos slide-shows para matar saudades do velho Oeste

8/21/2008

Olimpíadas na caminha

Num delicioso sarcasmo fúnebre, Bertrand Russel confessou que a última vez que tinha feito exercício físico foi para acompanhar o enterro de um amigo seu que tinha morrido a fazer jogging.

O desporto é uma coisa perigosa, consigo passar horas a olhar para ele, com sentida admiração, sobretudo se houver vinte e dois atletas em campo e uma bola pelo meio, porque como dizia Arrigo Sachi (treinador de futebol italiano) “O futebol é a coisa mais importante das coisas menos importantes”. Mas hoje, falemos de outros futebóis.

Apesar dos perigos inerentes ao desporto, as sociedades maníaco-ginastas modernas insistem na glorificação da velha e desactualizada receita espartana: “Mente sã em corpo são”. Pois, pois, mas nem toda a ginasticazinha valeu a Leónidas na Batalha de Termópilas. Agora já não há persas para combater à espadeirada ou desafiar para um corpo-a-corpo naquele desporto gay-musculado que é a luta greco-romana, sobra apenas um temível inimigo, mais perigoso do que meliantes brazucas.

O novo Grande Satã são as calorias, causadoras daquele notável efeito de arredondamento da pança que faz dos gordos os próximos proscritos das sociedades higieno-fascistas, filhas párias da demência politicamente correcta.

Vivemos numa época de margarinas poli-insaturadas, de corpinhos Danone, de ginásios com IVA mais baixo do que fraldas, de meia-maratonas em cada paróquia, de cardumes de ciclistas com fatinhos de licra e óculos escuros bimbos a infernizarem a vida ao pacato automobilista na Marginal de Cascais, de velhotas repimpadas na sua touca na aula de hidro-ginástica, de caminheiros de pau peregrino a invadirem as áreas protegidas, de um Spa em cada tanque com peixinhos cabeçudos, de mais surfistas que ondas.

Enfim, nunca como agora Portugal foi este imenso viveiro de desportistas de trazer por casa. Parecemos aqueles tanques das marisqueiras, com as sapateiras e os lavagantes a abocanharem-se em carnívoras carícias. Somos o povo dos ginásios e do body-building para ser porteiro numa discoteca em Matosinhos, que sempre é uma saída profissional para brutamontes mentais. Arriscar-me-ia a dizer que os sedentários orgulhosos, tendem a ser uma minoria cada vez mais ostracizada.

Em Inglaterra já se fala em discriminação positiva no atendimento dos hospitais para quem faça prova da frequência de aulas de salsa e merengue, jiu-jitsu ou badminton, pelo menos duas vezes por semana. Em contrapartida, a McDonalds e o Solar dos Presuntos passarão a ser obrigados a dar a lista dos seus mais vorazes clientes para constar da base de dados do Sistema Nacional de Saúde e constarem da lista dos “Dez glutões mais procurados pela ASAE”.

A bem da saudinha e do corpinho Danone pedalamos alegremente para a esquizofrenia colectivista. A onda de indignação que varre este país de sapatilhas e fato de treino a propósito da Missão Olímpica portuguesa mostra até que ponto a fasquia das nossas preocupações é rasteirinha. Estou perfeitamente à vontade para falar de desportos olímpicos, já que sou grande praticante de triatlo: halterocopismo, lançamento da beata e bisca lambida - e por isso custa-me ver a crucificação que se está a fazer dos nossos atletas olímpicos, que se limitam apenas a ser, portugueses.

O bom e sereno povo da sapatilha amuou com a falta de resultados e com as notícias matinais das rádios e TV`s que utilizaram até à exaustão a palavra “desilusão” para caracterizar a prestação dos atletas portugueses. Mas, quando começaram as desculpas com os árbitros, com a pressão competitiva, com a impressionante magnificência do “ninho” ou até com as horas matinais a que decorreram as provas, então aí furibundo, o orgulho nacional estalou em bramido de lobo ferido, exigindo responsabilidades, pedindo cabeças na bandeja do sacrifício para apascentar a iracunda dos néscios patrioteiros.

Pedem contas aos 14 milhões de euros gastos na missão olímpica, como se essa nos garantisse banhos de ouro como o dente de um pistoleiro de um western-spaghetti, quando essa quantia seria insuficiente para produzir uma perna do Mike Phelbs. O desporto escolar é berlinde, playstation e SMS`s; o universitário é cabulanço, bebedeiras, queima das fitas e tunas académicas, e depois querem medalhas. Ser atleta de alta competição em Portugal é a mais exigente das provas, consegui-lo é já uma extraordinária vitória.

Mas teimamos em expiar as nossas frustrações patrióticas nos nossos atletas e desportistas, depois de anos sucessivos em que a vítima preferencial foram os concorrentes nacionais ao Festival da Canção. A única coisa em que realmente podíamos ser os melhores do mundo eram os Jogos sem Fronteiras do Eládio Cllímaco, e esses já acabaram.

Para o ultra-competitivo povo português que não gosta de perder nem a feijões (o que é um bocado chato para um povo que passa a vida a perder) nada importa a velha máxima do Barão Pierre de Coubertin: “O importante não é vencer, o importante é competir”, porque no alto das nossas sapatilhas achamos que um portuga deve lutar para vencer, quer seja contra o Michael Schumacher num GP de F1, quer seja contra o Lance Armstrong no Alp d`Huez, quer seja contra a Bulgária no halterofilismo.

Quanto às desculpas esfarrapadas, não são as mesmas que damos lá no emprego para explicar um quotidiano de pequenos falhanços: “O relatórios não estava completo porque não tive tempo para o acabar”; “A apresentação de power point estava fraquinha porque o tipo da informática engatou aquela merda toda.”, “Mas com o ar-condicionado avariado como é que acha possível terminar este artigo”; “O pão tem fermento a mais, a culpa é daquele ucraniano novo”; “Anda para ái uma onda de crime, é por causa dos brasileiros”, “Aquela gaja é uma incompetente, só foi promovida em vez de mim porque anda a fazer olhinhos ao chefe” ……E podíamos continuar por aí fora neste vasto reportório, para explicar esta simples verdade inconveniente.

O grande desporto nacional é o chuta para canto – a desresponsabilização pessoal, a falta de cultura do erro, a trafulhice e a incapacidade de definir os nossos limites como pessoas e como profissionais. Sendo esta a nossa “alma mater”, porque raio é que os nossos atletas haveriam de ser tão diferentes.

É por isso que nesta hora de grande azedume nacional contra atletas olímpicos e ladrões brasileiros, toda a minha sentida solidariedade vai para o povo irmão e para Marco Fortes, o primeiro lançador de peso português a estar presente nos Jogos Olímpicos e eleito como o bode expiatório, ou melhor, o carneiro sacrificial, só porque depois do seu mau resultado na prova confessou: “De manhã só é bom é na caminha, pelo menos comigo.”

Amigo Fortes, tou contigo “brother”, aliás o único desporto que gosto mesmo de praticar é na caminha. Mesmo que ás vezes vá falhando uns mínimos olímpicos, nunca tenho mau perder.

Em dolbysurround no pnethomem.pt

Amor e Sexo

Filosfia de Alcova ... da boa. Libertinos de todo o mundo uni-vos!

8/20/2008

My Rifle, My Pony and Me - Dean Martin and Ricky Nelson

Esta fica mesmo bem neste velho saloon. Thank`s D.

8/16/2008

Depeche Mode - Personal Jesus

Ás vezes dava jeito ter um.

Johnny cash - Personal jesus

Às vezes dava jeito ter um

I'm So Lonesome I Could Cry - Hank Williams Live Performance

Hank Williams ao vivo na Rádio, só para fumar um cigarro cowboy a olhar a lua da pradaria.

8/01/2008

Diários de um turista low cost



Além disso o velho só tem CD`s do Rui Veloso, que como se sabe produz uma musiquinha capaz de intimidar a mais varonil das erecções.


Fazer amor na praia pode parecer muito romântico, impulsivo e aventureiro, mas do ponto de vista prático é muito desagradável. A areia é uma chatice, mete-se por todo o lado e pode dar-se o caso de haver caranguejos, pulgas do mar, mirones, polícia marítima ou um autarca de betoneira a programar um novo resort bem sobre o nosso traseiro ao luar.

A piada de fazer amor na praia é poder ser apanhado, mas para os devidos efeitos um elevador também serve (se não for do género claustrofóbico), ou o cinema, especialmente se for um filme do Steven Seagall com muitos tiros, explosões e sons de braços a esnocar para abafar um ou outro gemido incontrolável.

Acho que as dunas já não são propriamente como divãs, porque agora os putos fazem viagens de finalistas do 7º ano a estâncias de veraneio onde os quartinhos têm jacuzzi, e podem bem celebrar a nega a geometria descritiva com uma “cum laude” a anatomia analítica num confortável quarto de hotel com ar-condicionado e um iPod a bombar uma cançoneta lorpa dos “Tóquio Hotel”.

Se fazer amor na praia é arenoso e um bocado careta, qual é a pulsão sexual que nos resta, além do tradicional exercício carnívoro de fingir que se está a ler “A Bola” ou um opúsculo do Peixoto, enquanto se deita a esguelha à tatuagem do dragão que mergulha no fio dental da miúda com ar de pin-up. Em tipos da minha meia idade, meio gulosa e barriguda a única safa era esta febre das massagens que assola a nossa costa como campos de golfe para irlandeses bebedolas e reformados dos seguros alemães.

Não é que eu goste de massagens nas minhas banhinhas barrocas, mas gosto da ideia de haver duas mãos ali à mão para me esfregar um bálsamo nas costas. Isso dá um encanto hedonista à nossa costa. As praias do Algarve são as melhores do mundo por dois motivos – porque há massagistas profissionais e porque às vezes dá à costa uma tonelada de haxixe.
Mas um perspicaz comandante de costa topou o esquema quando virou o monóculo de Popeye para as dunas e viu uma massagista asiática a untar de óleos aromáticos o ventre opíparo de um administrador de uma empresa pública, e um príncipe do ébano a esfregar as nalgas de boas famílias de uma super-tia de Cascais. “Mau, aqui à gato”. E toca de marchar com a corveta de canhoeiras puritanas sobre esses postíbulos de trabalhos manuais a céu aberto – “Sei como começam as massagens, mas não sei como acabam”, justificou o soldadinho da batalha naval e lá mandou ao fundo o porta-aviões das massagens da pouca vergonha na costa algarvia.

Depois das bolas de Berlim, agora isto. Para mim é de mais.
Era para ir lá passar uns dias abaixo e ver se entrava à penetra numa daquelas festas do jet–set onde um gajo tem de ir vestido todo de branco como um padeiro, ou com um blazer azul e calças vermelhas como um cantor foleiro de cruzeiros, mas vale a pena o esforço já que o champanhe é à borla e a coca de qualidade.

Mas sem massagens e sem bolas de Berlim não estou para funfuns nem gaitinhas.
Acho que fico por cá e vou ali à Estefânia a uma casa de massagens de “descompressão” que sei precisamente como começam e onde acabam. Ou isso ou anúncios de relax do “Correio da Manhã” das massagistas peludinhas, a prometer turismo de matagal.
O comandante da corvina algarvia também devia meter umas férias e vir cá à capital fazer uma dessas massagens. Tenho a certeza que iria gostar da maneira como iria acabar o seu garbo naval. E já agora, senhor contra-almirante, se à vinda encontrar um embrulhinho castanho a boiar, traga também, só para o relax, afinal, férias são férias.
PS: Em dolby surround com pnethomem

7/29/2008

Tudo como dantes quartel-general em Abrantes

Tudo como dantes, quartel-general em Abrantes. Tudo na mesma como a lesma.


Regressar à pátria do cavalo lusitano e encontrar tudo desarrumadinho como dantes é uma sensação que dá muito conforto e segurança a um viajante.

Ainda há sardinhas, e das boas, mesmo com uma mais espapaçada a antever Agostos.

Os caracóis andam a banhocas em oregãos.

O país continua aos tirinhos a sonhar que vive num faroeste. Antes fosse, e um do Ford, já agora. Ciganos acusados de terem PlayStations, que toda a gente sabe ser o limiar mínimo da pobreza nas sociedades desenvolvidas como as nossas.

A esquerda que clamou por bairros sociais a dizer que a culpa é dos bairros sociais.


O que faz falta é dar um voucher-habitação a um Lelo para banhos na piscina do condomínio de uma família do Restelo, e ter os gitanitos descalços a dedilhar harpa como querubins e a soletrar "As Afinidades Electivas" de Goethe com os seus colegas cabo-verdianos no Colégio Alemão.

A direitinha de boas famílias, que é a favor do segredo bancário, especialmente do suiço, a ulular com o calote do rendimento mínimo, como se fosse "blood money" para pagar cartuchos. Enfim, os foguetes-fátuos do costume .
A época idiota, cá é o ano inteiro. É a tótózice ideológica à desgarrada.

Depois há o Benfica, que sem floreados, continua a perder com o Sporting e a deixar sair um por um os poucos jogadores que ainda sabiam o que fazer num relvado (Rui Costa, Rodriguez, Petit, só falta o Katsouranis e o Luisão para a desgraça ser completa).

O Cravinho, ah esse, malandreco, voltou a acenar com o isqueiro aos rabos de palha do PS, no celeiro da corrupção. E de fogaça e fumaça, para já é tudo, de resto, labaredas para repórteres de piquete de TV só na Grécia, onde os editores andam a banhos em Santorini ou mesmo em Lesbos, já a programar telelixos de reentrè ao sabor de daiquiris e piñas coladas.

E que mais? Um espanhol ganhou o Tour e o Barak Obama acabou a sua "tourné" europeia, decisiva para as eleições americanas, especialmente se tivermos em conta o granículo detalhe que os europeus não votam na Flórida, mas gostavam, especialmente se pudessem usar um fato de linho como o Don Johnsson.
Eu pelo menos gostava de ter um fato de linho Zenga, votar na Flórida, comer caranguejos e ver pin-ups a patinar à sombra de palmeiras.
Como não posso, fico por cá em Abrantes a debulhar caracóis, que como toda a gente sabe são parentes desavindos das lesmas. Que bom é Portugal, sempre igual a si mesmo.

PS: em rigoroso dolby surround com pnethomem

6/10/2008

Meu Caro Amigo - Chico Buarque / Francis Hime

Aqui na terra estão jogando futebol, tem muita sardinha, cerveja e caracol, mas eu queria lhe dizer que a coisa aqui tá preta.

6/03/2008

Contos paragráficos

«As vogais mudas manifestaram-se em frente à biblioteca, reivindicando a dupla nacionalidade.»

«O chá estava servido, as vogais mudas permaneceram caladas perante a estridente tagarelice das vogais abertas, que falavam da vida íntima das consoantes e devoravam bolinhos de noz besuntados com manteiga.»

«Depois de andarem a noite toda nos copos, o dicionário Houaiss e a trema estavam cá com um daqueles ressacões. O Houaiss teve uma laringite e ficou afónico enquanto a trema ficou sem palavras.»

«As vogais mudas foram obrigadas a aprender linguagem gestual, para poderem obter o visto de residência em Copacabana.»

«O poeta sentia-se incapaz de prosseguir o verso sem a ajuda das vogais mudas e por isso mudou de profissão e dedicou-se à panificação. A língua, já farta das suas melancolias, respirou de alívio.»

«O linguista estendeu a língua, esverdeada e com pus- É figado - disse o médico.»«Alberto atirou a matar na velha estátua do Professor de Românicas.»

«Stôra, dói-me a gramática!- lamuriou-se o menino Julinho.- Bochecha com o prontuário.Respondeu prontamente a Professora Gertrudes.»

5/29/2008

Sicilian Stone Experience

Não sou o Goethe, nem o Lawrence Durrel, mas tenho uma Niko e um CD dos Cocteautwins. O meu primeiro slide-show. V7 está moderninho, mas com poucas ideias. Enjoy the music!

5/23/2008

'Deliverance' - 'Dueling banjos' scene

Duelo longo, e arrepiante. Cinema em estado bruto.

beautiful cajun music in the 1981 film southern comfort.

E daí talvez não, os pântanos do Louisiana podem não ser muito hospitaleiros. Grande filme "Southern comfort", o melhor de Walter Hill. Esta cena só é comparável ao duelo de banjos de "Deliverance", outra boa razão para não ir pescar para território "red kneck", não se deixam enganar pela candura do vídeo em cima, "Deliverance" é um dos mais brutais e crus filmes da década de 70, assinatura de John Boorman.
Alons dancer? Non, merci

Cajun - The Jambalaya Cajun Band - Cajun Dancing

Hoje apetecia-me ir a um baile de música cajun.

3/31/2008

Grande história das pequenas coisas - O croissant

Comer croissants quentinhos com compota num quarto de hotel de cinco estrelas, enquanto nos espreguiçamos vagarosamente com o sol fresquinho da manhã; este é definitivamente um dos pequenos grandes prazeres da vida, pensava Irina Profileva, tocadora de oboé na orquestra de Kiev em digressão pela Áustria.
Envolvida neste langor dulcificado, depois de aviar meia dúzia de minúsculos croissants estaladiços besuntados com doce de laranjas amargas, a gutural ucraniana rendeu-se ao sono…
Na madrugada as tropas de Al-Mil-Folhas avançavam silenciosamente sobre os bosques de Viena. A elite das tropas otomanas, conhecida por apreciar salgadinhos e beber chá verde em desbragadas infusões, tomava a dianteira das colunas turcas, na esperança de serem os primeiros a tomar o pequeno-almoço, depois de tomarem de assalto Viena, uma cidade desprevenida e a ressacar do Festival Musical de Verão, onde jorrou cerveja em intermináveis solfejos.
Pela aragem da madrugada só soprava o ladrar intermitente e funcionário de algum cão, ou um cantar pífio de galo fora-de-horas. A brigada do croquete, assim se chamava a divisão de elite do Vizir, rumorejava com pequenos passos e aproximava-se gulosa dos muros de Viena. Iniciaram então a construção de um túnel subterrâneo, com a ajuda de escravos importados de Bizâncio, para poderem infiltrar-se nas belas esplanadas centrais de Viena, para galar as duquesas austríacas que planeavam sodomizar antes do chá da tarde.
O túnel cavava-se rapidamente, e Al-Mil Folhas desfraldava já a bandeira otomana do quarto crescente que planeava colocar bem no centro da Matzleinsdorfer Platz. A essa hora, numa viela escôncia, Karl Palmier, conhecido pasteleiro da Casa Imperial Austro-Húngara industriava os seus discípulos na correcta forma de amassar a massa para que ficasse estaladiça, quando ouviu um pequeno ruído metálico, persistente. Mandou Cassias Voltev, um reconhecido preguiçoso a quem estava incumbida a tarefa de bafejar canela sobre os bolos, ir lá fora indagar a origem do ruído. Voltev voltou e informou descontraidamente que as tropas otomanas se preparavam para tomar de assalto Viena, estando a concluir um túnel para poderem tomar o pequeno-almoço na Matzleinsdorfer Platz.
Karl Palmier cofiou longamente a sua longa barbicha e disse: - Main gotta! Turcos é que não! A barbárie dos salgadinhos daria cabo da nossa arte.
Decidido, limpou as mãos sujas de farinha ao avental ricamente bordado e pegou e desatou a bater furiosamente na panela onde se trucidavam os ovos, incitando os seus discípulos a fazerem o mesmo:
– Vêm aí os turcos! Vêm aí os turco! Saqueiam-nos o pequeno almoço! Ó da guarda, os infiéis roubam-nos o pão!
O escarcéu alertou os lorpas da Guarda Imperial que rapidamente desembainharam os seus instrumentos de mijo e inundaram as galerias turcas com as réstias de uma noite de empinanço de canecas. Horrorizados, os seguidores de Alá bateram em retirada, muito aborrecidos por terem de ir tomar o pequeno-almoço a outro lado.
Quando informado do episódio da noite anterior, o Imperador, agradecido, encomendou aos pasteleiros de Viena um pão que evocasse o seu pãotriótico feito.
Karl Palmier, que como o seu nome indica, já havia inventado o palmier, lembrou-se então da bandeira desfraldada com a lua em quarto-crescente, abandonada pelos turcos, e inventou um pãozinho folhado em forma de quarto-crescente, que em francês pasteleiro, se chamaria croissant. Pãozinho que se constituiria como um dos mais apreciados baluartes da civilização ocidental e que é presença habitual nos pequeno-almoços dos hotéis de cinco estrelas, como aquele onde Irina Profileva ressonava profundamente, a desperdiçar fôlego para o oboé necessário na “Música para fogos de artifício” que a Orquestra Filarmónica de Kiev tocaria no festival de Verão de Viena.

3/29/2008

Johnny Cash - San Quentin

Até dá vontade de ir para a choldra, mas afinal de contas na choldra já estamos nós

Johnny Cash, Live@ S.Quentin - Folsom Prison Blues

E já agora, cumprimos perpétua